Jantar no Vidigal

Já tinha ouvido falar do Bar da Laje, no Morro do Vidigal. Mas sabe como é, mesmo depois da pacificação e de todo mundo garantir que é 100% seguro, é sempre uma primeira vez.

Lá fomos nós. Você pega um táxi e fala “vamos para o Vidigal” e o taxista logo te responde “lá em cima ou lá embaixo? Porque lá em cima eu não vou, não”. Mas um amigo, morador do Vidigal, já tinha me dado a dica. Peça para o táxi te deixar lá embaixo, na entrada e pegue os moto-táxis para te levar lá para cima.

A experiência é realmente única. Os moto-taxistas não param de chegar, descendo o morro, com os capacetes do garupa à postos na mão esquerda, para te entregar. A fila de clientes anda a uma velocidade muito rápida, pois a moto é o principal meio de transporte do morro. Não dá nem tempo de pensar se você vai ou não pegar algum piolho ao colocar aquele capacete que já foi usado por milhares de pessoas antes de chegar a sua cabeça. O capacete é do tipo “tamanho único” para poder entrar em qualquer cabeça e nem tem o fecho para prende-lo sob o queixo, pois este “procedimento” atrasaria a operação.

Eu tenho a impressão que eles ganham por produtividade porque a velocidade com que eles sobem o morro é impressionante. E chama à atenção a habilidade que eles tem para ultrapassar kombis que estão fazendo entrega nos barzinhos, desviar de grupos de pagode que cantam no meio da rua, ignorar as lombadas de redução de velocidade. Nada os detém. O preço pela viagem é único – R$3,50, não importa em que ponto do trajeto da subida do morro você irá desembarcar. Como nosso destino é o ponto mais alto do morro, é compreensível que eles queiram acelerar um pouco mais do que o normal.

E lá vamos nós. Um grupo de 4, cada um em sua motoca, com uma mão segurando os capacetes que balançam na nossa cabeça e a outra segurando embaixo do banco. Dá vontade de passar o braço em volta da barriga do motorista, para maior firmeza, mas olhava as outras motos e ninguém estava nesta postura. Achei que poderia parecer muito gay, e que talvez o motoca não gostasse muito. Melhor se equilibrar com o corpo mesmo.

As motos vão ultrapassando umas às outras e você repara que realmente aquele é o meio de transporte oficial da comunidade. Uma senhora gorda que seguia atrás do motorista magrinho tinha uma das mãos segurando um bolo enorme, “confeitado”, e a outra segurando o banco para se equilibrar. Um outro morador resolveu dar carona para seu cachorro, que seguia, sem capacete, entre ele e o motoca.

E conforme a moto vai subindo, as casas vão diminuindo de tamanho, vai crescendo o numero de barzinhos, cabeleireiros e pequenas igrejas, as pessoas vão se concentrando mais e mais no meio da rua, o barulho vai aumentando, vão surgindo mais vendedores ambulantes, churrasqueiras de espetinhos e panelas de buchada e caldo verde vão deixando um cheiro maravilhoso na rua, e a preocupaçao com os piolhos vai ficando lá pra trás.

Vire e mexe uma brecada brusca da moto faz o seu capacete trombar com o capacete do motorista, que não parece se importar. Mas quando tirei o pé do apoio e o coloquei no chão para ajudá-lo a passar em um cantinho estreito entre uma kombi e uma parede, tomei uma bronca: “coloca o pé de volta, porra!”. “Ops, foi mal, achei que tava te ajudando”. Pela primeira vez ele deu um meio sorriso.

O outro meio sorriso foi quando eu deixei R$5,00 e disse que estava tudo certo. Afinal, fomos até o ponto final, no ponto mais alto do morro.

Tempo total de viagem, 10 minutos.

Entramos, pegamos o cartãozinho eletrônico de consumo, passamos pela cozinha exposta com vidro transparente, impecavelmente limpa, e chegamos ao terraço, ou melhor à laje.

Perdemos a respiração. É uma das vistas mais impressionantes do Rio de Janeiro. Parece que estamos suspensos no ar. Sentamos na mesinha de madeira de frente para a vista, recebemos o cardápio com uma variedade enorme de coisas, como você esperaria encontrar em um cardápio de um lugar com esta vista alucinante. Se é que você me entende. Não? Não importa, um bom cardápio.

Ficamos na tradicional picanha fatiada, muito farta, a carne extremamente macia, acompanhada de batatas fritas, farofa, cebola frita e arroz. Caipirinha de maracujá servida em copo longo, com muito gelo, cerveja Heineken gelada dentro do balde. Serviço ultra-rápido. Ainda arrematamos com uma carne de sol acebolada, desfiada, acompanhada de mandioquinha frita.

Melhor do que muitos lugares da zona sul, com a vantagem da vista e da emoção da subida. Programa imperdível quando estiver no Rio.

E se beber muito e não quiser voltar de moto, eles tem uma kombi que te leva de volta até “o asfalto” ou, no nosso caso, com um agrado adicional, até em casa, no Leblon.

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2 comentários em “Jantar no Vidigal”

  1. Muito bom, Marcelão!!! Já fui aí também com nosso querido amigo Ricardinho, vulgo Calango, naquela oportunidade acho que foi primeira ida dele também, eu estava enchendo o saco dele pra encararmos esta empreitada! A sua descrição sobre a experiência está perfeita, sem nada a acrescentar, é exatamente isso mesmo, show, vale a pena e é uma bela aventura que fica marcada no nosso “caderninho”! Pra coroar a experiência como uma cereja do bolo, quando fomos ainda tinha uma banda tocando com patrocínio na Heineken e o lugar estava “bombando” de gente! Abraço

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